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domingo, 4 de julho de 2010

Os 80 anos de José Giudici

ARTIGO

Leandro Giudici é natural de Torrinha-SP, ama São Bernardo do Campo, onde reside desde os seis anos no bairro Assunção, é repórter, locutor da rádio web Vozes da Cidade, Assessor de imprensa e torcedor do Palestra de São Bernardo, Diretor de comunicação da Soc. Cultural Brasilitália, membro da igreja Batista, adora carros antigos, futebolista não praticante e colunista do BERNÔTÍCIAS.

Charge feita para comemorar os 80 anos de Giudici


Hoje quero abrir as aspas para falar de uma pessoa que nada tem haver com nossa gloriosa São Bernardo, nunca residiu aqui e raras vezes passou para visitar os parentes ou ir ao Cemitério Jardim da Colina onde está sepultada sua esposa. Afinal, exemplos não se limitam a fronteiras.
Me refiro a meu avô paterno, José Giudici, que no último dia 1° de julho completou 80anos.

Sua história começou na então (e até hoje) aprazível e simpática cidade de Torrinha, no interior Paulista. Uma linda região do Estado no alto do planalto ocidental na região de Jaú.

Neto de italianos por parte de pai e neto de um espanhol sitiante pelo lado materno, nasceu em casa em 1930. O pai, Carlos Giudici, era mestre de obras da Companhia Paulista de Estradas de Ferro que, na época ainda expandia a malha ferroviária no auge da agricultura cafeeira. A mãe, Hilda Moinhos, era dona de casa e costurava pra fora ajudando a manter a família.

José viria a ter mais três irmãos: Lavínia, Juraci e Manoel. Apenas o último ainda é vivo. Lavínia seria assassinada em São Paulo algumas décadas depois. Uma tragédia! Juraci faleceria ainda menina vítima de uma das doenças hoje simples, mas que matavam muito antigamente.

Desde caboclinho, Zezinho era um menino esforçado, jamais se indispunha a ajudar a mãe nos trabalhos domésticos. Ajudava a criar os irmãos, buscava leite na venda, ia a qualquer canto que lhe pedissem. Ajudava o pai em seus trabalhos de carpintaria, ia ao sítio do avô, onde ajudava no plantio e na colheita do café e em outras atividades da roça. Sempre rápido, disposto, habilidoso e disciplinado.
Nos fins de semana ia a igreja Presbiteriana, doada e construída pela família; Uma das primeiras do interior. Desde antes de sair da barriga de sua mãe já mantinha uma comunhão estreita com os preceitos religiosos.

Seu primeiro emprego, ainda em Torrinha, aos 12 anos de idade, foi de ajudante em um consultório médico. Ele mesmo conta entusiasmado o que fez com as dezenas de sacos de exame de urina que se amontoavam em um quartinho fedorento: Jogou todos fora dentro da latrina, para a satisfação total do doutor.

Bom aluno, estudou até o terceiro ano do primário no Grupo Escolar com o professor Ismael Morato - ainda hoje muito recordado na cidadela - ao lado inclusive, do irmão mais jovem do nosso ex-prefeito Tito Costa, que também é torrinhense.
Quando passaria ao quarto ano - na época um grande feito - teve que se mudar para a Capital por conta do trabalho do pai na Companhia.

Chegou a São Paulo menino, veio com a mãe, os irmãos e as várias bagagens, desembarcaram na Luz. Sua primeira residência foi em uma simples casa na Rua Mário Vicente, travessa da Av. Nazaré no bairro Ipiranga. Depois se mudaria para uma casa um pouco maior nas esquinas da Imperatriz Leopoldina e Visconde de Pirajá, o ponto final dos eternos ônibus elétricos dos anos 70 e 80 e que sobreviveram até metade da década de 90. Hoje a rua abriga a estação Alto do Ipiranga.

Ainda com 12 ou 13 anos, passou a trabalhar na confecção de pijamas Wambell, onde seria funcionário por mais de 50 longos anos. Seo Orlando, dono da confecção, ficou abismado com a habilidade do menino canhoto em dobrar lenços.

Na juventude, conheceu a mulher com quem viveria por um jubileu de ouro, Irma Santinello. A moça bonita, olhos verdes, paulistana, neta de italianos, resistiu um pouco mas, com certa insistência, tornou-se sua noiva e esposa. Com Irma, José teve quatro filhos (Douglas, Charles, Jeanqueline e Willian). Este colunista é o terceiro filho do primogênito.

A primeira residência do casal foi à Rua Durval Vilalva, também no Ipiranga. E foi nesta casa que se iniciaram os trabalhos de evangelização com reuniões semanais entre vizinhos e parentes. A sala da casa rapidamente ficou pequena e o irmão Manoel cedeu a parte de cima da casa onde vivia na Rua Côn. José Norberto, alí próximo.

Nasceu então a igreja Pentecostal da qual José mantém-se até hoje a frente fazendo um trabalho espetacular na questão social, de evangelização e que não é exagero dizer, mudou muitos destinos, impedindo que crianças conhecessem os caminhos tortos e fáceis que a vida lhes oferecia.

Logo em seguida, com alguns caraminguás de economia, veio uma grande realização da obra, a aquisição de uma Kombi, essa que seria o grande instrumento da missão determinada de José e sua mãe Hilda: levar as pessoas a conhecerem o caminho cristão.
José, que trabalhava arduamente durante a semana, não dormia até mais tarde aos domingos, levantava ao cantar do galo e com a perua percorria muitas (seria exagero dizer todas) ruas do bairro, especialmente cortiços, casas simples e posteriormente, as favelas para buscar crianças carentes.

O pirulito na saída das reuniões era um incentivo a mais para que elas voltassem na semana seguinte.

Enquanto a família crescia - vinham os primeiros dos oito netos - a obra continuava e o número de membros crescia. Assim, de forma resumida - seriam muitos os detalhes se fossemos citar exemplos - crianças que teriam saboreado o prato frio que a pobreza lhes dava, seguiram por caminho diferentes. E não foram poucos! Nem todos continuaram membros da igreja, mas a maioria levou consigo a retidão que as escolas dominicais e os cultos ensinava.

Alguns viraram pastores, outros cristãos assíduos e alguns nos páram em variados lugares para dizer que foi meu avô, José Giudici, quem os levou para o caminho correto. Algo impagável!
Em 2009, a obra completou 50 anos. Aos poucos, apesar da saúde invejável e a disposição de poucos jovens de 18 anos, Giudici passa a obra para outros sacerdotes que o sucedem, mas se mantém firme e presente ensinando e dando exemplo de como a honestidade, a fé e a lealdade valem a pena. Uma gigantesca herança que a "família" (entenda-se todos os seus próximos) levará por várias gerações.

Hoje, em uma época em que quase tudo está nas mãos com o clicar do mouse ou um telefonema, em que as pessoas mantêm contatos virtuais e se fecham cada vez mais para a individualidade, vale a pena saber e refletir sobre uma história octagenária como essa: que ensina, assim como Zézinho aprendeu na roça do avô e como diz um velho ditado, que sintetiza bem sua vida: "Quem planta colhe!".

Na vida pessoal, onde também se estende a figura de uma pessoa idealista e batalhadora, conseguiu uma boa condição graças ao trabalho massante e metódicamente honesto.

Em 2002 perdeu a companheira que tanto amava, mas deu outra lição, a de que a vida não tem hora e nem idade para acabar. Ergueu a cabeça e conseguiu olhando para frente enxergar um novo amor. Casou-se pela segunda vez em 2008 aos 78 anos com Míriam, senhora com quem vive muito feliz na Praia Grande.

Frequentemente volta a Torrinha, sua terra, onde possui um sítio, reencontra parentes, inclusive alguns tios ainda vivos e aonde à noite pára pra contar aos netos tudo isso que sei.

Ao meu nonno a minha singela homenagem e muitos anos de vida!

Um comentário:

  1. Leandro

    Ficamos alegres e saudosos ao ler seu texto, eu e minha mãe Wanda Bortolai Nehring, filha de Cesarino Bortolai e Nerina Giudici.
    Ou seja minha mãe é prima de seu avó.
    Abraço e lembranças a todos.
    Paulo
    paulo@digitalmagic.com.br

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